sexta-feira, 1 de junho de 2012










  

Casa de Moledo, Caminha
Arquitecto Eduardo Souto de Moura





 

Introdução 

No âmbito da unidade curricular de Teoria e História da Arquitectura I, aprofundaremos no presente trabalho, o revisionismo do Movimento Moderno, tendo como objecto de estudo o património do Norte de Portugal.

Neste sentido, estudaremos a casa de Moledo projectada por Eduardo Souto de Moura nos finais do século XX (1991-1998), localizada no Norte de Portugal, Moledo do Minho, pertencente ao município de Caminha. Abordaremos as características do seu contexto de intervenção, a lógica funcional e espacial do projecto, bem como os seus aspectos que se aproximam e distanciam do modelo canónico do Movimento Moderno.

Neste estudo, sobre a casa de Moledo, iremos verificar que o arquitecto português, Eduardo Souto de Moura, herdeiro de uma determinada tendência do modernismo regional, atribui primazia às características do local em função das necessidades dos clientes, num estilo arquitectónico simples, claro e abstracto. 


1. As características do contexto de intervenção e o modo como o projecto lhes responde 

O projecto que iremos abordar é do arquitecto Eduardo Souto de Moura, a casa de Moledo, como já referido na introdução.
Esta habitação foi projectada quase na mesma altura que a Casa em Baião, do mesmo arquitecto, por isso têm ambas um programa idêntico: planta rectangular, dois ou três lados cegos, caracterizada por vidro contínua de um ou mais lados e de apenas um pavimento. 

 Comparando Baião a Moledo, Chiara Baglione (Casabella, 1999, p. 39), informa:
"Em Baião, (...) a costura rectilínea da fachada e da cobertura é disfarçada pela utilização de terra sobre a laje. Se nesse caso o tema central do projecto é representado pelo plano de vidro e alumínio contrastando com a ‘naturalidade’ dos blocos de granito dos muros, em Moledo o tema é aquele da cobertura, da casa como uma ‘mesa’. O valor da cobertura como um objecto ‘colocado’ sobre o terreno é acentuado por outro aspecto do edifício: durante a construção, foi descoberto um bloco único de pedra que o arquitecto decidiu deixar à vista, criando uma segunda fachada de vidro para o aclive da montanha. Por isso, o projecto assume o carácter de reconfiguração do terreno, de complementação de um sítio natural." 

Do mesmo modo que a casa de Moledo foi uma continuidade da de Baião, uma antiga horta agrícola em Matosinhos foi baseada na de Moledo. Eduardo Souto de Moura admite: 

"Considero estas casas com pátio de Matosinhos como uma continuidade da Casa de Moledo." 

A casa de Moledo foi instalada no alto do terreno, como se fosse monumental. Este foi modificado, havendo uma nova topografia do mesmo. Foram inseridos uns socalcos (com 1,5 metro de altura, aproximadamente), que são essenciais para a leitura do projecto, no próprio solo. O último serve como camuflagem da casa, é como se esta fizesse parte da Natureza, sendo esta a intenção do arquitecto (ver anexo nº3).
Além disso, ainda no que toca na implantação da casa, é bem visível nas traseiras da casa, através do envidraçado que também existe desse lado, uma "parede" de rochas (ver anexos nº8 e 9). Proporcionando, assim, uma sensação de abrigo. Temos assim, de ambos os lados da casa, através das paredes de vidro, belas paisagens; de um lado o tal rochedo e do outro, o Oceano Atlântico (ver anexos nº 10 e 11). 
Para Souto de Moura, as características do local são muito importantes para a construção dos seus projectos. 

"Sou um arquitecto de descoberta de situações e oportunidades. Tenho as respostas nos materiais da região.", afirma Souto de Moura. 

A habitação possui uma forte ortogonalidade, uma planta única, rectangular. Desfruta de um plano de uma casa aberta, com articulação de volumes e espaços fechados, havendo assim uma hierarquia perfeitamente funcional. A sua cobertura em plataforma estabelece um diálogo com o envolvente, parecendo invisível e desse modo faz parte da topografia do terreno onde se encontra. Esta plataforma da cobertura, vista de cima, mostra a intervenção humana (ver anexo nº5), porém, vista de baixo, é uma simples faixa de concreto com plano vertical de vidro, que definem a casa (ver anexo nº4). 

"Busquei a elegância e a transparência.", explica Souto de Moura. 

Esta é uma característica miesiana, admitindo o próprio arquitecto que tem influências de Mies nos seus projectos, e este não é excepção.
Uma outra característica miesiana é o uso dos materiais, considerado elegante e enxuto, aproximando-o decididamente de Mies. Além de ser influenciado por este arquitecto, também tem influências de diversos arquitectos portugueses ou espanhóis. 


2. A lógica funcional e espacial da planta que melhor representa o projecto (a definir pelo grupo) 

A casa tem apenas um piso. O edifício tem uma forma rectangular, sendo envidraçada nos dois lados de maior dimensão. Nomeadamente a fachada da frente, onde tem o melhor foco visual (a cidade, o Oceano Atlântico, etc.) e na parte de trás voltada para as rochas, nas quais Souto de Moura aproveita este afloramento de rochas, que existem no fundo da casa. Ainda reafirmando a ligação entre o meio ambiente e o interior da casa, que também proporciona uma sensação de abrigo, tendo assim uma maior percepção para o exterior tanto na fachada da frente como na de trás. 
As duas paredes laterais são cegas, devido ao facto de o edifício se encontrar introduzido no terreno. Tem uma grande porta de vidro deslizante com vista para o mar, atrás do qual se encontram as diferentes áreas da casa, nos quais a cozinha, a sala, três quartos, duas casas-de-banho (uma servindo um dos quartos apenas), uma sala de guarda-roupa, um pátio e um corredor que percorre o edifício no lado voltado para a montanha (para o rochedo).
A organização do programa é sintética, o longo corredor junto ao rochedo une, na parte posterior da habitação, tanto os quartos como os serviços (camuflados por uma armário contínuo), como a sala comum (open-space). Esta sala é limitada lateralmente, de um lado, por um armário, e de outro por um murro que incorpora a lareira. Nenhum destes elementos (ambos de direcção perpendicular aos socalcos) toca no envidraçado frontal. O muro-lareira não toca no envidraçado frontal para permitir a passagem para a cozinha que se esconde atrás dela (do muro) (ver anexo nº6). 


3. A lógica funcional e espacial do corte que melhor representa o projecto (a definir pelo grupo) 

O corte definido pelo grupo (ver anexo nº2) de trabalho foi um corte longitudinal que passa pela cozinha, sala, pelos três quartos, uma casa de banho e a sala do guarda-roupa vendo para a nascente. No corte podem-se observar as duas paredes laterais cegas. Mas isto surge pela investigação feita por Souto de Moura com o tema recuperação da casa de família, a partir daí constantemente trata de um tipo padrão baseado em uma planta rectangular com dois ou três lados cegos (dois na casa de Moledo), geralmente formado por uma parede de janelas, que são alinhadas com os elementos da fachada e os espaços de distribuição e áreas de serviço ocupam o interior gerado. A casa de Moledo obedece mais ou menos este modelo como se pode verificar na planta e neste corte (ver anexos nº 6 e 7). 


4. Os aspectos do projecto mais próximos dos modelos canónicos do movimento moderno 

São vários os aspectos que, nesta habitação de Souto Moura, se aproximam dos modelos canónicos do movimento moderno, principalmente no que diz respeito à construção, aos materiais utilizados e à implantação do próprio projecto.
No que diz respeito à forma, esta construção é um grande exemplo da arquitectura moderna que assume uma ruptura perante a construção pesada em "caixa", construída durante séculos. Como consequência dessa ruptura, houve novas alternativas, relativamente ao método de construir, inserindo a técnica de montagem e desmontagem de planos, tal como a casa Schroeder de Rietvield (ver anexo 12).
Este edifício é também uma referência ao movimento moderno no que diz respeito ao uso de grandes planos de vidro, disponibilizados pela tecnologia que substituíram a vedação material pela transparência imaterial, sendo o vidro esse material que proporciona a máxima transparência imaterial, tendo sido um dos materiais mais usados no movimento moderno, tal como na casa Farnsworth, de Mies Van der Rohe (ver anexo 13), como modelo da vida moderna.

Determinadas vezes, a arquitectura moderna aparece-nos de uma forma enigmática, passando quase despercebida, difundida na paisagem, sendo esta casa de Moledo um grande exemplo disso, na medida em que nos sugere uma ideia de abrigo, intimismo, com tecnologia e conforto absolutamente actuais, disfarçada pela ruína ou pela própria natureza que envolve a habitação, tornando-a quase camuflada na paisagem.
Souto Moura tem muito esta ideia de "camuflagem" patente na sua obra, apesar da sua arquitectura estar fortemente ligada com a dos seus predecessores, Fernando Távora e Álvaro Siza. O desenho deste seu projecto vincula mais uma atitude de compromisso com a região em que o projecto está inserido do que com os seus antecessores, devido ao uso do granito nos muros que escondem o edifício e o articulam com o terreno envolvente, recusando a limpeza do terreno (no qual o projecto está implantado), a partir do qual surgiu o desenho da planta. 


Características da arquitectura de Mies presentes na Casa de Moledo

Há aqui uma grande referência miesiana no que respeita o desenho da obra, sendo caracterizado por um processo límpido e depurado de construção que caracteriza todo o projecto, na medida em que um plano representa mais um gesto do que simplesmente uma parede. Relativamente à escolha de materiais, limpeza espacial interna, limpeza das formas e introdução de banheiras com ventilação zenital, também se encontram fortes semelhanças entre a casa de moledo e as obras de Mies Van der Rohe. 


5. Os aspectos do projecto que mais se distanciam dos modelos canónicos do movimento moderno 

Sendo esta obra claramente moderna em todo o seu desenho e construção, apenas podemos considerar como aspecto mais distante do movimento moderno a presença dos muros de granito, pré existentes à sua construção, a partir dos quais se abriga à habitação. 


Conclusão 

Após a realização do presente trabalho, concluímos que o factor a partir do qual surge o projecto de Souto Moura é a topografia do terreno.
A habitação em estudo, surge como que abandonando a ruína existente perto da entrada (à cota baixa) do terreno, optando por instalar a casa no alto, sendo a parte mais visível de intervenção do arranjo deste os socalcos. O último socalco serve de camuflagem à casa, interrompida para a abertura sobre a paisagem. Na área de implantação, o arquitecto, utiliza o rochedo para servir como fundo do espaço interior, conferindo assim bastante importância às características do terreno, concedendo, deste modo, grande pertinência ao contexto onde se situa o projecto.
Deste modo, podemos concluir que a habitação está relacionada com o seu envolvente, do interior para o exterior e vice-versa. Concluímos também, que a linha da planta que representa uma parede revela-se externamente como um muro, que além de conotar a permanência de ruína, nega qualquer associação com o processo industrial, característico do modernismo. A forma como esta habitação, se integra no seu contexto natural é fascinante, e perceber as intenções do arquitecto, o modo como, a mesma, se integra no terreno, e todo o seu programa (quer em planta, quer em corte).
Em todo o seu desenho e construção é tipicamente moderno, excepto a implantação e a escolha de materiais não se verifica a mesma proximidade, sendo o que se distancia do movimento moderno. 


Bibliografia

Livros
- MOLA, F., "Eduardo Souto Moura, Architect", Barcelona: Loft Publications, 2009, pp. 22 -27
- SILVA, Helena Sofia e SANTOS, André, "Souto de Moura", Vila do Conde: Arquitectos Portugueses, 2011, pp.40-45

- SOUTO MOURA, Eduardo, "Themes for Projects", Milão: Skira, 1998, pp. 94 – 99
- TASCHEN, Laszlo, "Arquitectura Moderna M-Z" volume 2, Köln: TASCHEN, 2010, pp. 508 – 509
- TOSTÕES, Ana, "Arquitectura Portuguesa Contemporânea", Portugal: CTT, 2008, p. 79
Revistas
- BAGLIONE, Chiara, "Casa a Moledo", Casabella, nº664 (1999), p.33 e 39
- CECILIA, F. e LEVENE R., "Eduardo Souto de Moura", EL CROQUIS, nº124 (2005), pp. 54 – 61
- CECILIA, F. e LEVENE R., "Eduardo Souto de Moura", EL CROQUIS, nº146 (2009), pp. 21- 23

- SOUTO DE MOURA, Eduardo, "Casa em Moledo", AV. Monografias, nº72 (1998), pp. 96 - 99
- Revista PROJETO, nº232 (Junho 1999), pp. 90 – 91
- Revista 2G International Architecture – "Eduardo Souto de Moura Recent Work", nº5 (1998), pp. 44 – 51

 
Trabalho de Síntese Final | UC Geometria


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